Sobre Princesas e Príncipes
O reino era quase perfeito, azaleias e jasmins forravam estradas. Por toda parte a brisa cantava suave com cheiro de malva e alecrim. O sol, que nunca fora castigador, parecia nascer com dedos de carinho, diante de toda a paisagem daquele lugar feliz! Chuva? Só como mãos delicadas, lavando cuidadosamente bancos de praças e telhados que estavam sempre parecendo novos ou de pintura restaurada…
Pintura de casas que eram desenhadas de arabescos que emolduravam os muros da cidade e os vitrais do tal castelo, o tal castelo que abrigava o príncipe (o mais bonito da região).
O mesmo príncipe que além de bonito, bacana e corajoso, já havia lutado com dragões, salvado garotas presas em torres e pisado em jacarés nos lagos escuros que separavam as pontes.
O mesmo príncipe que, embora cheio de juventude, aventuras e tédio (como deve ser a vida sem graça dos príncipes e dos que se julgam um), na calada da madrugada – enquanto o miado triste de um gato se fazia ouvir, ainda sonhava com aquela (princesa) que em seus mais escondidos e negados sonhos, viria ser sua companheira e mãe de doces filhos…
Instalado um decreto sobre a procura da tal princesa, convocou-se em todo reino, um concurso para escolha da dita cuja.
Dos mais variados lugares e das mais variadas estampas, chegaram ao reino, centenas de meninas moças (algumas nem tanto assim) que candidatavam-se ao cargo tão nobre, desejado e invejado.
Nas entrevistas que se sucederam, o príncipe cada vez mais triste e ansioso , não conseguia encontrar aquela que corresponderia aos seus anseios (e fantasias).
Até que pela manhã de um morno dia de primavera, a lívida, estonteante e também morna candidata queixou-se, logo no inicio de sua apresentação, de certa indisposição causada pela noite mal dormida nos aposentos do castelo.
Bingo! O príncipe achou a beldade tão esperada! É que ele havia colocado grãos de ervilha debaixo dos sete colchões da cama das seletas e habilitantes moças. Aquela era uma verdadeira princesa! Só uma digna (e bem fresca) mulher, teria percebido em suas costas tão delicadas a presença de tão pequenos objetos incômodos.
Casaram-se em meio a sinos, rendas, manjares divinos e música de céu!
Escutei esta história há mais ou menos 30 anos… E deve ser bem mais antiga que isso.
Histórias de séculos passados que (do prisma das classes abastadas) eram comuns.
E elas se repetem hoje:
O reino, ah! É claro, o reino ainda é onde almejamos morar.
O decreto real que procura aquela que herdará o trono de ouro,( do casamento sonhado) é bem parecido com as filas de candidatas e candidatos das redes sociais e de sites de relacionamento .
Eles também pregam peças aos mais desavisados que carecem (muitas vezes) serem salvos de “dragões famintos”, pontes levadiças, ”crocodilos ferozes”.
Sem contar com as torres altíssimas que enclausuram o sonho de perfeição e do resgate, feito por um bravo cavalheiro.
O príncipe?… Sempre esperado. Montado em seu cavalo branco, corajoso, bonito, bom, poderoso ,moderno, amante, galanteador, romântico, atencioso, fiel, poderoso, rico, entusiasmado, leal e tudo o mais que as cabeças de princesa esperam de um companheiro ideal.
Essa história se repete nos desejos mais escondidos e menos admitidos de toda uma sociedade moderna, cansada da guerra do sexo e de mudanças de papel.
As mulheres almejam seus príncipes,
Os homens almejam suas princesas…
O mês de maio será sempre das noivas. Com suas rendas e sedas, coroas, luvas e perfumes. Caudas, cortejo, pajens e mini princesinhas. Cores, sinos e músicas de céu. Harpas e flautas; doces e festas.
Urgente decretar-se, então, um final feliz! Mesmo que não seja “para sempre”, mas enquanto o “sempre” durar…