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ALMERINDO SILVEIRA

A simplicidade está nos detalhes que permeiam a vida e dão sentido as coisas…
Ser simples, é estar atento…
Um estado de alerta ao que realmente vale a pena.
O divino que há em nós!

Por: Mônica Garcia.

Nascido em Espinosa, MG, em uma família de doze irmãos. O padre Almerindo da Silveira Barbosa, está hoje com 44 anos. É filho de Antônio Evangelista Barbosa e de Maria Senhora Silveira Barbosa.

A mãe, foi arrimo de família desde que ficou viúva aos 45 anos de idade. Na época o menino Almerindo, tinha apenas três anos. O irmão mais velho já era casado e ajudava a mãe financeiramente quando necessário. Os recursos financeiros da família não eram muitos, mas, a mãe nunca deixou que faltasse nada aos filhos. Naquela época, naquela cidade, ela era a única pessoa que fazia colchas de tear. As mulheres levavam a ela os novelos de linha tingidos ou não para que ela tecesse as colchas das famílias. Diariamente, por anos a fio… era essa a sua principal atividade.
Com a ajuda dos filhos menores que desenrolavam os novelos de linha ela ia tecendo e todos os dias depois do almoço entregava a seus clientes uma coberta pronta. Esta foi a principal renda da família durante muito tempo.

Todos os filhos começaram a trabalhar cedo, ali mesmo, na roça. E esperavam completar 18 anos para ir para São Paulo em busca de melhores oportunidades. Pois que, naquela época era muito difícil viajar antes de completar maioridade.

Pela diferença de idade, e pelas circunstancias, o Almerindo não criou vínculo com alguns dos irmãos. Não chegou a conviver com eles. Basicamente conviveu com a irmã mais velha que ele e a mais nova. Todos se amam. São família, mas, não tiveram laços construídos em família na infância.

A comunicação naquela época, também era algo difícil. Tanto que o seu irmão mais velho só veio saber da morte do pai, muito tempo depois, durante o período de férias, quando pôde visitar a família na zona rural.

A família do padre Almerindo hoje se divide entre São Paulo e Nova Serrana. Um dos seus irmãos casou-se com uma moça, cujo pai encontrou oportunidade boa de trabalho em Nova Serrana, e trouxe filha e genro. Alguns irmãos do padre ao visita-los na capital nacional do calçado, também viram a possibilidade de crescimento financeiro e profissional e acabaram sediando também naquela cidade.

Lá na roça, onde ele vivia com a família, fluía tudo de forma muito natural… Ele não percebia na época, um vínculo forte com a mãe. Eles eram criados muito soltos… sem muita demonstração de carinho. As pessoas, sobretudo, a sua mãe, não demonstrava afeto… era pessoa simples. Não tinha abraços e beijos… era tudo muito seco… muito simples… e a vida acontecia assim. Sem muito alarde de sentimentalismo… e isso era normal.

E a família seguiu este padrão de comportamento. Todos se amam, porém, ninguém telefona pra ninguém. E se ninguém liga pra ninguém, é porque está tudo bem. E quando liga é porque aconteceu alguma coisa. Quando é assim, a família toda se reúne, como aconteceu na doença da matricarca da família.

Ao nos contar que ele não tinha um vínculo muito forte com mãe… ele relembra para citar como exemplo, outros seminaristas que sofriam muito pela ausência das mães, choravam e custavam aguentar o dia de irem em casa. Ele não tinha este problema… para ele era normal este tempo de espera e ele não sofria como os outros companheiros.

Depois, quando a sua mãe morreu, foi que a ficha caiu, e ele percebeu a falta que faz… o quanto aquele jeito de existir, de educar e de amar era tão rico de valores mesmo na sua simplicidade.  Percebeu como aquilo tudo mexia com ele e descobriu que ele era fruto dela e que ela estava como sempre esteve, enraizada nele. Pra sempre e desde sempre no seu coração…

Ele sofreu muito. De modo que ele percebeu que ele é uma parte dela e que ela é um pedaço de sua vida. A ponto de ficar pelo menos um ano, chorando por sentir a falta dela.

Hoje ele expressa suas emoções com facilidade. Chora quando tem motivo. Mas, naquela época não era assim. Tanto que quando um dos irmãos morreu, ele sentiu muito, mas, chorar era difícil.

Num encontro ao acaso com uma psicóloga, ele desabafou e ouviu dela que esse luto era normal e que talvez ele choraria por um ano… nesta época ele se revoltou e quis desistir de ser padre. Foi um dos momentos mais difíceis da sua vida.

Ele relembra que a casa da mãe, em São Paulo, para onde ela se mudou logo que ele decidiu ir pra capital, era muito pequena. Lá moravam ela e uma das irmãs. Quando ele chegava, os três tinham que se amontoar…
Uma terna lembrança que mexe com ele, está justamente neste tempo, quando ele já na porta da casa chamava por ela;
_ MÃE!
E ela, ia em silêncio… passos lentos… abrir a porta pra ele.
A acolhida era simples… Normal. Sem abraços. Sem maiores gestos de amor. Mas, aquela presença… aquela lembrança da mãe abrindo a porta e se voltando para o seu quarto… trazia um ar de carinho… de aconchego, de proximidade e de amor!
Do único grande amor.
O amor de MÃE…

Naquela casa, ele nunca mais voltou. Primeiro pela dor que seria estar lá sem a presença dela. Segundo, porque sempre que vai a São Paulo, a irmã, os visita na casa de outros irmãos e está tudo certo.

Sempre muito ligado à igreja, padre Almerindo, foi crismado aos 13 anos. E já lia a celebração da palavra nos lugares onde morou.

Tempos depois, após receber o convite de uma mulher muito atuante na vida religiosa em Espinosa, MG, ele passou a integrar a legião de Maria, e desde então nunca mais largou a vida da paróquia.

Fez parte do coral da igreja e acompanhava o padre nas comunidades rurais que eram muitas naquela região. Ao todo contavam 76 comunidades rurais, assim ele passou a ficar mais conhecido.

Toda a comunidade falava que ele ia ser padre. Ele, menino que era, só ouvia. E acha que foi pela insistência do povo. De tanto falarem, ele acabou assumindo isso. “Porque as pessoas acham que a gente nasce para determinada coisa. E não é assim. A vocação é uma construção! Uma decisão.”

A partir da decisão, a pessoa passa a seguir rumo a ela.

Ele nunca respondeu a estas pessoas. Só as ouvia… vai ser padre!… vai ser padre.

Um dia, almoçando na casa de uns amigos em comum, ele disse ao padre da paróquia de Espinosa que pertencia a diocese de Januária, que ele queria muito ir pro seminário. O padre, satisfeito, ficou de levar o seu pedido até o bispo.

Almerindo, queria ir o mais rápido possível. Pensou que fosse coisa de uma semana… ou no máximo até o início daquele ano.

O padre chegou trazendo novidades, mas anunciou que antes ele precisaria fazer os “encontros” preparação… e disse que aproveitasse este período porque depois que fosse para o seminário, nunca mais voltaria a viver com a sua família de novo…Então, ele fez a preparação.

A diocese mandava os meninos para Divinópolis para fazer o primeiro ano. Nesta época ele já estava com 21 anos.

O primeiro ano do seminário é chamado de “propedêutico”. É um ano de discernimento. Como se fosse um pré-vestibular… um cursinho.
Foi um ano de oração… de estudo de língua… de introduções… de estudos bíblicos, de aulas de latim e de convivência comunitária.

Em um encontro da “Província”, que é um encontro das dioceses, ele conheceu a coordenadora de Luz, MG. Ela gostou muito dele e teceu vários elogios à sua cidade. Contou a ele que lá tinham dois bispos, inclusive, nesta época o Dom Belchior era vivo. Continuou dizendo que o reitor era uma pessoa muito boa… que era um padre moderno… e que se chamava padre Antônio D’ Simone, e que se o Almerindo fosse pra lá, iria gostar demais.

No momento oportuno, Almerindo foi para a cidade de Luz, MG, completou o segundo grau e através de bolsa fez filosofia na PUC.

Em 2001 teve um problemão na diocese e o bispo mandou seis pessoas embora do seminário. Entre estas pessoas estava ele. Embora o padre Almerindo não tivesse nada a ver com a situação… aconteceu assim.

Foi um período difícil, porque ele não queria parar de estudar e não tinha condições de continuar com os estudos em universidade particular, sem a bolsa de estudos, então lutou para ficar em Belo Horizonte, passando quase fome. Ele e o amigo Fábio Costa, que deixou o sacerdócio há cerca de pouco mais de um ano, moraram juntos em um barracão nesta época. Receberam ajuda de alguns padres para que pudessem continuar na capital.

Em 2004 prestou outro vestibular para teologia e concluiu em 2007, totalizando um período de nove anos de estudos. O caixa Dom Belchior que é destinado aos seminaristas foi o único recurso financeiro do qual ele podia contar mensalmente desde que fez o cadastro. Outras ajudas, vinham de forma aleatória. Foi um período difícil.

Em 2007, ele ordenou a diácono em Bom Despacho, MG. E no dia 7 de dezembro do mesmo ano, ele ordenou a padre em Córrego Danta, MG, na paróquia do padre Adelzire.

No próximo dia 07 de dezembro ele completa 14 anos como padre.

Em Arcos, MG, ele assumiu a paróquia Nossa Senhora do Rosário e fez grandes amigos por lá. Mas, como o padre Almerindo, não é preso a lugares e adora o novo… pediu ao bispo pra sair, para ser transferido. O bispo avaliou a possibilidade de enviá-lo para Santo Antônio do Monte. Mas, neste meio tempo apareceu a oportunidade de vir para Lagoa da Prata, MG, assumir a paróquia São Sebastião. E coincidência ou não, era o lugar que ele almejava se estabelecer.

Ele chegou investindo na capacitação dos funcionários, na reforma do escritório, na reforma dos bancos da igreja que tinham muitos pregos soltos, adquiriu novos bancos, mandou pintar a parte interna da igreja, depois a capela do santíssimo, para que fosse mais digna de receber aquele que é o rei dos reis. Fez outra capela. Depois trocou o telhado da casa paroquial, resolvendo o problema das infiltrações…Fez um palco no recinto de festas e cimentou a entrada que era de terra batida. E por fim, fez o externo da igreja, deu uma pintura na praça e nos meio fios e arborizou todo o espaço da praça que só este ano ganhou 70 mudas de árvores. Entre elas, o Jambo Roxo, Rosedá, que não é uma árvore muito grande, Jacarandá mimoso e Ipê.

Fora a parte estrutural, a parte pastoral também sempre teve sua atenção, com os jovens, para o Encontro de Jovens com Cristo, com as mulheres, as mães que oram e os ministros da palavra. Deu formação aos catequistas, aumentou o número de catequistas e o número de ministros…

Não tinha coroinha… agora já tem.
Não tínhamos os acólitos, agora já temos…

Os acólitos, ajudam o padre. Arrumam o altar e orientam a procissão de entrada…

Almerindo, gosta de política e é um participante ativo. Na sua vida privada, fora da igreja, ele apoia abertamente o amigo e vice-presidente da assembleia Antônio Carlos Arantes, que é muito católico, religioso e sobretudo, integro.

Ele apresentou o deputado à população de Arcos em uma ocasião e posteriormente o apresentou aos amigos em Lagoa da Prata, na última eleição. O deputado destinou algumas emendas importantes ao município a pedido do padre Almerindo. Uma delas foi a reforma da Escola Virgínio Perillo, com uma verba de pouco mais de meio milhão de reais.

Este ano veio ajuda para quatro entidades e a polícia fez pedido de uma viatura para o próximo ano que o deputado pretende atender.

Padre Almerindo, diz não querer ser político. Mas, sempre ser amigo de quem é.
Por gostar de ajudar. E por encontrar em alguns homens públicos esta disposição de somar em sociedade.

Ele enfatiza que as pessoas estão muito extremistas. E diz que isso não é saudável… segundo ele as pessoas precisam saber ouvir mais. Ele não acha que o ponto de equilíbrio esteja nos extremos, nem de direita e nem de esquerda. E que o que vale é o caráter da pessoa… e a disponibilidade dela em servir. Não se trata de partido e sim de personalidade.

E enfatiza que um ponto alto na comunicação, é justamente saber ouvir.
Ouvir o outro, ouvir os vários meios de comunicação… ouvir.

Para isso cita como exemplo pessoas que o procuram na paróquia e falam… falam… falam, enquanto ele só ouve e não fala nada. Se levantam, agradecem e saem, e ao saírem dizem às outras pessoas que ele as ajudou demais… e o que ele fez foi ouvir.
E diz que essa é uma atitude de amor, de respeito e de empatia para com o semelhante… porque neste mundo corrido, ninguém está muito disposto a escutar o outro. E que assim, se perde uma conexão mais que humana em nós. Uma conexão, divina, na verdade.

“Se a pessoa olha pra Jesus, a pessoa vai saber ouvir as pessoas. Ele não julgava ninguém… primeiro ele acolhia… ouvia… e só depois então, ele sabia onde ele poderia ser luz, jogar luz na vida daquela pessoa.”

Padre Almerindo, foi professor e aposta que a educação pode mudar o mundo.
Morou e lecionou em cidades pequenas e era feliz, porque a felicidade segundo ele não está no lugar e sim em cada um de nós. Ele é feliz em tudo que faz e faz com prazer. Não tem pretensões ambiciosas e acha que já conseguiu até demais. Mora numa casa boa… tem comida… tem carro e tem salário. Duas faculdades e três pós graduações.


Gosta de se vestir bem. É vaidoso e gosta de cuidar de si. Gosta de comida boa, embora não saiba cozinhar. Um presente que ele adora ganhar dos amigos, é perfume. E enfatiza que gosta de perfumes bons, que não sejam caros, porque ele gosta mesmo é de se lambuzar!… de tomar banho mesmo de perfume.
E conta empolgado que descobriu uma loja de rifeiros que vende kits de perfume por um preço extraordinariamente bom, não passa o endereço, nem o nome, para que você leitor não venha a limpar o estoque. (risos…)

Padre Almerindo, conta com alegria que fez uma amizade enorme com uma família em Belo Horizonte que o adotou como um filho. Os três filhos do casal, Guilherme, Felipe e Leonardo, o chamam de irmão. Ele tem a chave da casa da família em BH, e quando tem algum problema de saúde é cuidado por eles. Em todos os seus aniversários, o Ederson (Dé) o paizão, que também é chef de cozinha, e a sua esposa Denise, fazem questão de vir à Lagoa da Prata para comemorarem juntos o seu aniversário.
Fazem o prato de sua preferência!
As especialidades do chef ficam à disposição do gosto e da vontade do anfitrião e dos outros filhos.
Ele é o melhor churrasqueiro de Belo Horizonte, segundo o padre Almerindo. Mas, o bobó de camarão, a paella, feita por ele, é de comer rezando!!!
No seu último aniversário, para a sobremesa, imaginem… foi servido um bolo de chocolate branco (laka) com sorvete!

E eu fico a pensar… o aniversário do padre está chegando! 25 de dezembro tá aí. O que será que vem por aí?!… Muita coisa boa! Imagino…

Eu e o padre Almerindo, nos reunimos no seu escritório, na secretaria da paróquia, para a produção desta entrevista numa tarde ensolarada de outubro. Foram quase duas horas de uma das audições mais belas que já tivemos… o prazer de conhecer a sua história, nos arrancou naqueles momentos suspiros profundos em algumas passagens e gargalhadas em outras.
A vida nas redes sociais é boa, muito boa!
Mas, nada que se compare ao valor da presença!
Da experiência da troca, e do olho no olho.
De lá sai com uma certeza,
A vida só é boa se for compartilhada!

E realçou outra certeza que eu sempre tive,
Pessoas precisam valorizar mais quem está perto. Do lado. Em casa. No escritório. No carro. No trabalho… Sabem porquê?
_ Porque é ali que a vida realmente ACONTECE!

 

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