HONRA AO MÉRITOPersonalidades

FERNANDO DUARTE – UM HARLEYRO APAIXONADO

Fernando Duarte, arquiteto de formação, nasceu no Rio de Janeiro em 28 de maio de 1950. Filho de Manoel Couto Duarte e Nilza Santos Duarte, cresceu ao lado de sua irmã, Lúcia e, sempre que tem oportunidade, visita seu querido filho Arthur (nascido em 28 de julho de 1983), que mora em Atlanta EUA. Desde cedo, Fernando nutria uma relação especial com a natureza, principalmente durante as férias que passavam na fazenda de seu padrinho em Teresópolis. As lembranças daquele período, como o contato com os animais e as jabuticabeiras sempre carregadas de frutos, são para ele inesquecíveis, sendo a jabuticaba, até hoje, sua fruta preferida.

Após concluir sua formação em arquitetura, Fernando se mudou para São Paulo, onde morou por dez anos. No início, surgiram grandes desafios com seu escritório devido às inconstâncias dos planos econômicos da época. Um acidente de moto complicou ainda mais sua vida, impedindo-o de continuar seus projetos, já que, na época, tudo era feito à mão, e ele havia fraturado o pulso direito, o que o deixou impossibilitado de trabalhar por seis meses. Ele reflete sobre esse período mencionando o “tripé da vida” – saúde, coração e profissão – e como, naquele momento, ele estava mal em todas essas áreas. No entanto, a sua verdade de que tudo iria melhorar o ajudaria a superar as adversidades e, ao remover o gesso, poderia voltar ao trabalho. E foi assim que aconteceu.

Um dos maiores marcos de sua carreira foi ter sido contratado pela Varig Airlines, uma antiga companhia aérea, onde teve a oportunidade de atuar por 25 anos como arquiteto. Essa experiência proporcionou um vasto reconhecimento internacional, com viagens a diversos países da América do Sul, Central, além de lugares como Estados Unidos, Canadá, África e Ásia. Na Varig, Fernando participou de grandes projetos, projetando reformas e prospectando locais para a instalação de bases corporativas, salas VIP, escritórios administrativos e, entre os maiores projetos, destacam-se os terminais de carga do Rio de Janeiro, Guarulhos e Campinas, além de outros terminais menores no Norte e Nordeste, que são obras maiores, mais pesadas, industriais.

A paixão por motos, no entanto, sempre esteve presente na vida de Fernando. Aos 10 anos, ele viu um jovem em uma moto Jawa, sem camisa e com uma camiseta branca na cabeça, que exalava felicidade. Essa imagem o marcou profundamente. Anos depois, em 1973, após trabalhar por um tempo, ele comprou sua primeira moto de trilha, dando início a aventuras em locais remotos, distantes do asfalto. Na verdade, sempre gostou de moto off-road, tem o espírito de aventura e isso começou a motivá-lo a conhecer locais onde ninguém chega e não conhece, lugares longe do asfalto, pensa que o asfalto é uma parte massificada da civilização.

Em 2007, adquiriu uma Harley-Davidson FatBoy, como a moto usada por Arnold Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro”, o que o mudou ainda mais a sua forma de explorar o mundo. Ele passou a participar de grupos que realizavam viagens para o sul do Brasil.  Frequentemente a loja da Harley promove café da manhã e convida os harleyros, os amigos se encontram e contam suas histórias.

Em um destes encontros, em 2013, Rui Barbosa, outro Harleyro, que estava organizando uma viagem para o Alasca o convidou para irem juntos. Muitos amigos desistiram por conta da família e de trabalho, mas Rui estava determinado, mesmo que fosse sozinho. Fernando, sentindo a necessidade de um desafio maior, levou apenas 11 segundos para decidir que embarcaria nessa aventura. Dois meses depois, partiram juntos para o Alasca. Inspirado nessa jornada, ele escreveu o livro “11 Segundos até o Alasca”.

Fernando relembra que teve um “bota fora” na loja da Harley para a partida deles, onde um grupo enorme de motociclistas harleyros, e um grupo de amigos “jeepeiros” se juntaram em uma comitiva e os acompanharam até Pará de Minas em uma grande festa para comemorar a grande viagem dos dois amigos.

Eles saíram em março de 2013, tinham que chegar no alto verão ao Alasca, porque lá a temperatura fica em média 30º negativos, neve de 6 metros de altura. O alto verão, é no mês de junho, quando a temperatura estava em torno de 0ºC, chegaram em 1ª de julho de 2013.

Fernando conta, como foi interessante, que não chegaram no Alasca na parte sul, por Anchorage, e sim pelo meio do Alasca que é a cidade de Fairbanks e dela até o destino final, Prudhoe Bay. Neste último trecho é tudo deserto, uns 300 a 400km não tem nada, nem posto de gasolina. A estrada não é asfaltada, na verdade não pode asfaltar para manter a rodovia com cascalho, porque embaixo tem uma camada chamada permafrost, permanentemente congelada, com diferença de temperatura ela pode oscilar em seu movimento, inclusive as casas não podem ter uma estrutura muito resistente ou estática, elas acompanham um pouco desse movimento e são coladas umas nas outras, se uma cair, as outras podem cair, como efeito dominó. Não havia, na época nenhuma assistência nesse trajeto entre essas cidades e, por se encontrar apenas uma bomba de gasolina a cada 400km, foi preciso levar combustível.

Ele conta que em um determinado ponto se cruza o círculo polar ártico, e registra como o americano é interessante, porque eles fazem de tudo uma festa. Por essa ocasião eles fazem uma recepção, montam uma tenda, quando é alto verão, uma senhora recebe as pessoas que chegam, entrega um diploma por estarem cruzando o círculo polar ártico, tiram foto e as entregam.

Chegando a Prudhoe Bay, uma cidade praticamente desabitada e formada por estações de óleo e gás, Fernando e Rui sentiram o isolamento. A hospedagem era em um container com quartos que lembravam cabines de trem. Eles não tinham luxos, e as turmas de trabalhadores da estação eram trocadas a cada 15 dias, mantendo uma rotatividade constante. Durante a viagem, Fernando chegou a perder 10 quilos, mas o prazer de atravessar os Andes, ver o Oceano Pacífico e chegar de moto no Alasca, compensou todos os desafios.

Em Belo Horizonte, a presidente do moto clube Águias de Aço, Jackie Senra, havia lhe convidado para que ele fosse membro do clube e ele disse que quando chegasse ao Alasca aceitaria o convite. Ao chegar ao Alasca fez uma cerimônia de comemoração. Em Prudhoe Bay é proibido consumir qualquer gota de álcool, então eles fizeram um chá e fingiram ser um espumante.

A volta estava programada para vir para o Brasil, porém quando chegou no Peru, ficou tão animado com a viagem que decidiu continuar sozinho até Ushuaia na Patagônia, o Rui preferiu voltar para o Brasil. Sentiu grande emoção ao ultrapassar os Andes e poder fincar a bandeira brasileira e a de Minas Gerais, marcou território como bom brasileiro nos dois extremos das Américas. Um fato que recorda, quando ainda estava em Cusco (Peru), foi que pararam em um restaurante para jantar e viram uma mesa grande com uns 10 ou 12 jovens motociclistas, e foram conversar com eles. Os jovens ficaram bastante admirados por aqueles “jovens grisalhos” estarem fazendo uma viagem como aquela. Foram 6 meses viajando, 60 mil km, equivale a uma volta e meia ao redor da terra. Passaram por uns 16 estados e 9 países. Faziam em média 300 km por dia, sendo que às vezes precisavam passar mais tempo em uma cidade para fazer revisão da moto. Nessa viagem precisou trocar 4 pneus traseiros gastos e 3 dianteiros. As vezes paravam um dia ou dois em uma cidade para conhecer, fazer um pouco de turismo, visitar sítios arqueológicos , como Tikal na Nicarágua, lugar maravilhoso. Tinha dias que rodavam mil km.

Não viajavam a noite por segurança, mas no Alasca podiam viajar até 1h da manhã, porque não escurecia, nesse horário o sol ainda estava alto e claro. Tem uma experiência muito interessante em Belize, na fronteira antes de entrar no México uma localidade chamada Shark Ray Allen, nesse lugar podia fazer um turismo bem selvagem, que era nadar com tubarões e arraias, mas são tubarões mais tranquilos. Um barco leva até o local onde tem tubarões juntos, poderia descer e nadar junto com os tubarões, pegar neles, isso foi no ano de 2013. Retornou no ano passado e já não era permitido tocar nos animais e nadar com eles.

(Fernando Duarte, relembra com orgulho que apenas ele fez o percurso até o Alasca e viagem contínua para Ushuaia. O amigo Rômulo Provetti, outro aventureiro, que tem 4 livros publicados, já foi até ao Himalaia de moto, ele tem um site que publicou as fotos das aventuras, então na época da viagem, mandava suas fotos para o Rômulo e ele publicava também no seu site.)

( Fernando Duarte relembra com orgulho que foi o único a realizar o percurso até o Alasca e, em seguida, continuar a viagem até Ushuaia. Seu amigo Rômulo Provetti, também um grande aventureiro, já percorreu o Himalaia de moto e tem quatro livros publicados. Rômulo mantém um site onde compartilha fotos de suas expedições, e, durante a viagem de Fernando, ele também publicava as fotos enviadas por ele em seu site.)

Era interessante ver as pessoas interagindo. Ele escreveu os relatos das experiências e as pessoas acompanhavam. Ao chegar na Argentina, em Buenos Aires, já estava cogitando não voltar ainda para o Brasil, resolveu colocar uma enquete para que as pessoas pudessem opinar, no início houve pouca interação. Postou que se sentiu abandonado, pois quase ninguém mais escrevia, após esse comentário houve muitas mensagens e a maioria disse que ele deveria voltar. Como ele tinha outro sentimento, fez a brincadeira que havia dado “empate” e que o voto dele é que decidiria, dessa forma afirmou que continuaria com a viagem.

Inspirado pela aventura, Fernando lançou o livro “11 Segundos até o Alasca”, revertendo toda a renda para instituições de caridade, como os “Caminhos para Jesus”, em Belo Horizonte, e a “Fundação Ricardo Moysés Junior”, em Juiz de Fora. O lançamento do livro, em 2018, na loja da Harley em Belo Horizonte, foi um sucesso, com mais de 200 exemplares vendidos na manhã do lançamento.

Fernando compartilha sua vida de aventuras ao lado da namorada, Soraia Silva, que é sua parceira em todas as jornadas, seja na terra, no ar ou na água. Eles já exploraram o Rally dos Sertões, subiram a cordilheira dos Andes e até cruzeiros pelas ilhas gregas. Relembra de uma das viagens mais difíceis, no Rally dos Sertões, na etapa do Paraná, em 2022, quando passaram a madrugada tentando montar uma barraca que não se mantinha em pé. Há também boas memórias de estadias em hotéis luxuosos em diversas partes do país e exterior.

Fernando deixa uma mensagem inspiradora aos jovens que estão iniciando no mercado de trabalho: “Faça um Alasca na sua vida. Acredite em si mesmo e no seu potencial. Não trabalhe dependendo dos outros, mas por si próprio, pois o resto virá com certeza.” Ele finaliza com uma frase da contracapa de seu livro: “Seremos conhecidos para sempre pelas pegadas que deixamos” (Sabedoria dos índios Dakota).

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