O horizonte gráfico dos meus livros
A poesia e a literatura exigem idealismo e visão coletiva de mundo de seus autores, que jamais podem entregar-se à sedução pelo sucesso fácil e por temáticas capazes de empobrecer espiritualmente os seus casuais leitores.
Definitivamente, não há como encontrar pureza em fonte suja, ou seja, qualquer toque perverso macula os pincéis da arte da palavra escrita. O exercício literário é difícil por natureza e ainda tem que enfrentar gestores que não têm a devida sensibilidade nem formação intelectual para tratar (com o indispensável esmero e respeito) as questões relativas à cultura.
Não é raro encontrarmos em cargos públicos e privados pessoas sem qualquer convivência com os produtores de arte em seu entorno. Muitas vezes, mesmo em pequenas cidades, a pessoa responsável pela administração da cultura municipal não tem sequer o hábito de comparecer a lançamentos de livros, a apresentações de grupos de teatro e dança, a mostras de pintura, a feiras de artesanato, desconhecendo completamente os problemas e anseios dos que tecem os fios da arte com o suor do seu esforço, com a luz de seus sonhos e o poder de sua criatividade.
Na condição de autor independente, aprendi que não tem como se alcançar a obtenção de qualquer apoio expressivo de quem nunca deu as caras numa noite de autógrafos e nem de longe imagina o empenho aplicado na produção de um livro. Assim sendo, quando é procurado para tratar de patrocínio à impressão de um livro, se nos apresenta incapaz de demonstrar apreço e vislumbrar a obra em si, ficando restrito ao autor, que é tido como simples pedinte – nada representando o livro como oportunidade de elevação do conhecimento e iluminação do espírito humano.
Preparo-me para o lançamento de dois livros em abril do ano que vem (2022), visando à comemoração dos meus 70 anos. Na oportunidade chegarei à publicação de 25 títulos e, na condição de aposentado do INSS, vejo que é o momento apropriado para eu me dedicar mais à administração de meu site, no qual se encontra postada toda a minha obra literária, preparando os meus familiares para cuidar de meu patrimônio cultural construído com tanto sacrifício e desprendimento.
Envolvido com a produção de livros desde 1977, perdi grandes patrocinadores e incentivadores como Wilson Ricardo de Oliveira (que movia montanhas e indiferenças em prol da impressão de meus livros); o advogado e empresário Antônio Faleiro (Buffet Faleiro, em Belo Horizonte); Edmar Roque (proprietário da Cantina do Lucas, BH) e tantos outros inesquecíveis e saudosos amigos. Lamentavelmente, não obtive sucesso na reposição de tais perdas, pois o que sei mesmo é exercer o meu ofício de escriba menor e contei com a sorte de gente que veio a mim atraída exclusivamente pelo esvoaçante brilho da palavra exposto no horizonte gráfico de meus livros.
A busca de patrocínio nunca foi tão difícil, pois não há como se estender a arte da palavra escrita onde não existe horizonte para a reflexão e a tentativa de se trabalhar na construção de um ser humano melhor e mais capaz de colocar em prática os ensinamentos de Jesus Cristo.
Constato com tristeza que a indústria de entretenimento invadiu o espaço cultural e, assim, as pessoas se tornaram avessas a qualquer produto de cultura que as levem à reflexão sobre as coisas que a rodeiam – como se boas composições musicais, um belo espetáculo teatral ou a leitura de um bom livro não figurassem como elementos de cultura, eliminados pela ideia de que o lazer só pode ser preenchido pelo vazio do entorpecimento de desafinada cantoria sem fim.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista