RELOJOARIA E JOALHERIA OMEGA
Por: Mônica Garcia
A pandemia do covid-19 nos deixou inúmeras perdas. Uma delas, tocou imensamente todos os que tiveram o prazer de conhecer ou conviver com o Leonardo da Relojoaria e Joalheria Omega, foi um susto, um choque, uma dor muito grande que compartilhamos pelas redes sociais. Não pudemos nos reunir na sua despedida, para um abraço ou um consolo. O Leonardo se foi precocemente e em nós, ficou a lembrança de um comerciante atencioso, de um rapaz discreto, de valores éticos e morais e com notável sensibilidade, atenção e zelo para com todos os que chegavam no seu comércio para serem atendidos por ele. Muito do que ele conta sobre o seu pai, eu percebi implícito nele.
A pandemia se foi, mas, não levou a lembrança e o aprendizado que pouca convivência com ele me trouxe. A ele, gratidão pelos momentos de alegria e esperança, que faziam brilhar os nossos olhos, quando tratamos desta divulgação da sua empresa que hoje é dirigida por sua mãe, Nair Teixeira Rosa, em parceria com a sua esposa, Tamara Priscila de Castro.
Tamara, não quis gravar entrevista. Ela realça os esforços dos que fundaram a empresa e se diz fortalecida na fé em Deus, no legado deixado pelo seu marido Leonardo e na missão de não deixar faltar em casa a alegria que ele sempre buscava levar, o pão de cada dia e a esperança para criar o filho da melhor forma possível. A ela desejamos o melhor; saúde, vida e sucesso nesta nova fase da sua vida frente ao empreendimento da família.
Reproduzimos aqui, com autorização da diretoria da Relojoaria e Joalheria Omega, a entrevista feita no ano de 2017 pela jornalista, Juliana Figueiredo, com o Leonardo.
Palavras do Leonardo:
A empresa começou suas atividades no ano de 1965 pelo saudoso padrinho Geraldo Magela Amaral, que pegou o meu pai, Reinaldo Rosa para cuidar aos 13 anos e o trouxe para morar na sua casa. Depois de perder o pai e estar passando dificuldades em Divinópolis; meu pai logo começou a ajudar na loja onde trabalha até hoje.
Os dois eram parceiros inseparáveis, nunca se teve relato de desavenças ou discórdias, trabalhou muito, chegando a trabalhar 15 horas por dia.
No início a Relojoaria tinha apenas meu padrinho Geraldo e meu pai Reinaldo como relojoeiros, mas, com o tempo e sucesso no segmento a empresa antes pequena, chegou a possuir mais 04 funcionários que não paravam de tanto serviço que demandavam, época de safra na usina, nessa época o nome relojoaria Ômega, era a primeira opção de concerto não só em Lagoa, mas, em todas as cidades de nossa região, conta meu pai que tinha uma meta de conserto de 40 unidades por dia de relógios mecânicos muito complexos de executar.
Em 1986, houve uma tragédia e nosso líder, o homem mais íntegro, sério e honesto que conheci na minha vida, veio a falecer, padrinho Geraldo morreu dois dias após meu aniversário de 8 anos, eu já ajudava na loja desde meus 7 anos, senti muito aquela perda.
Meu pai e meu primo Flávio Andrade Amaral, filho de meu padrinho Geraldo pegaram a gerência da loja, foi muito difícil para meu pai se sentar na banca de conserto do padrinho Geraldo e retomar seus serviços e passar a banca dele para outro.
Vivemos um longo luto, mas precisamos continuar, não aceitamos sua partida, morreu muito novo o padrinho, era forte e cheio de vida, faleceu salvando o seu filho e um primo que estavam se afogando num remanso de um riacho e depois de salvá-los alguns dizem ter passado mal, e se afogou, morreu como um herói, como sempre foi para mim, a vida toda.
Desta época pra frente, dia após dia, fui assistindo meu pai tocar a loja juntamente com o meu primo Flávio, que anos depois vendeu sua parte da loja para o meu pai.
Comecei muito cedo a trabalhar, saia da escola e já pegava o horário de almoço do meu pai, onde íamos pra loja, comecei na lavagem de pulseiras e caixas dos relógios, depois a consertar despertadores, é incrível quando você coloca a última peça que funciona o sistema de um relógio, é como um coraçãozinho batendo, era como se desse vida às coisas, aquilo me fascinava, o tic tac dos relógios, a engenhosidade de cada peça, além de terapêutico, eu aprendia muito, as peças em sintonia, como uma equipe trabalhando para um único resultado que era produzir a hora exata.
Meu pai sempre foi batalhador, nunca se ausentou do trabalho por gripe, dor no corpo, as vezes eu achava que ele era uma máquina, muito honesto e sincero com todos. Decorria um assunto com qualquer cliente, seja jovem ou de mais idade, homem ou mulher, cruzeirense ou atleticano, ele sempre tinha algo pra discutir e deixar o cliente a vontade na loja, enquanto executava o serviço.
Eu o considero o melhor comerciante de Lagoa da Prata, mesmo aqueles que via pela primeira vez, já se simpatizavam com o carisma, atenção e “carinho” com que ele os dispensava.
Eu sempre quis seguir seus passos, eu e meu irmão Reinaldinho, concorríamos por sua atenção eu e meu irmão, Reinaldo Teixeira, tempos 2 anos de diferença e trabalhamos juntos com o papai desde cedo, meu pai adorava, estimulava nossos pontos fortes, eu era mais perfeccionista e o Reinaldinho mais pontual.
Considero o trabalho com familiares ao seu início o mais fácil, mas só no início, a medida que as obrigações e o compromisso sobrepõem a flexibilidade na qual a família lhe dá, aí a cobrança fica séria, intimidade demais atrapalha o objetivo e a cobrança dos resultados na empresa.
O meu tempo com o meu pai e meu irmão, eu não trocaria essa experiência que vivi por nenhum cargo ou profissão que me desse mais dinheiro, o qual hoje eu não considero ser a solução pra tudo. Tenho orgulho de tudo que construímos juntos. Meu pai nunca me deu sequer um peixe nas mãos, em contrapartida, me ensinou bem como pescá-los.
Ele é para mim, o maior comerciante que a cidade já teve; carisma, simpatia, honestidade e amizade. Muitos dos seus clientes e amigos, iam até a loja só para uma conversa informal.
Com o falecimento do meu padrinho Geraldo, meu pai pôs-se a contar muitas histórias e atitudes de meu amado padrinho, sua seriedade, seu sistema único de organizar e conduzir toda sua vida financeira, meu pai por várias vezes chegou a me comparar com ele, eu adorava, eu me espelhei muito nessas histórias e nos bons exemplos do meu pai.
Eu sempre tive foco, sempre participei de feiras, reuniões em Belo Horizonte sobre o nosso segmento (relojoaria) e (joalheria) na qual eu implementei o portifólio da loja.
Com a introdução e evolução do celular, fiquei temeroso sobre o que aconteceria com o nosso ramo, por isso agreguei o segmento de joalheria em nossas lojas.
Uma das coisas que mais me orgulho nesta vida, foi o fato de ter conquistado a confiança do meu pai para que eu pudesse ter sinal verde para as minhas decisões, desde novo, criei a logomarca, restaurei as vitrines, dei uma nova cara para loja, influenciado pelo curso de administração que fiz na PUC de Arcos e os anos de estudo em Belo Horizonte.
Com o meu pai aprendi o principal, aquilo que não se encontra em livro e em mesas de faculdades, que é o caráter, a honestidade, a sinceridade. Meu pai não mente, nunca mentiu, a palavra mentira não existe no seu vocabulário. Eu consegui não digo ensinar, mas sim, atualizar meu pai para as tendências e novidades do mercado.
Sou otimista, faço planos o dia inteiros, tenho inúmeros projetos em teste esperando o seu tempo, aconselho a todos terem projetos de curto, médio e longo prazo, o segredo é sonhar e agir sempre.
O futuro será daqueles que chegarem primeiro, que ousar e acreditar no impossível.
O mercado sempre aponta para novas tendências tecnológicas, novas formas de comércio como o E-comerce, estou trabalhando em uma loja virtual já há um bom tempo, não é simples como eu pensava, mas sendo uma tendência, não serei o último a chegar.
Tenho muita preocupação com os novos tempos, a escola mudou, antes a pessoa se formava e já tinha uma garantia de sucesso, hoje um diploma por si só não garante uma carreira de sucesso e feliz. Hoje tudo muda rápido, a globalização vem aposentando precocemente muitos profissionais como sapateiro, costureira, relojoeiro, tudo fica descartável, é o capitalismo. Se eu puder influenciar meus filhos vou inseri-lo na profissão que lhes deixar “felizes” satisfeitos com o que fazem, o resto é consequência.
Meu querido pai, a palavra Obrigado, não define a real gratidão no qual tenho pelo que me deu simplesmente por ser quem você é, seus exemplos, sua postura diante das adversidades, foram elas que me ensinaram, sua calma com todos, sua irreverencia, seu otimismo me fizeram muito bem. Agradeço a Deus, por ter me dado essa família digna e maravilhosa a qual pertenço. Obrigado!
Tamara, contou-nos que o Leonardo tinha uma atração especial pelo número 07 e que logo que eles se casaram ele foi claro ao dizer a ela que desejava ser pai de sete filhos. Até então ele tinha tido cinco filhos; Carolyne, Gusthavo, Leonardo Almeida, Maria Clara e Laura.
Tamara, fez do seu sonho realidade ao ter com ele dois filhos, Lorenzo e Davi.