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Biláh Bernardes em: “Sentimento Dividido” – Por: Luiz Otávio Oliani

SENTIMENTO MUNDO AFORA DE SANTO ANTÔNIO E
BELO HORIZONTE EM BILÁH BERNARDES

por Luiz Otávio Oliani*
“Minas está dentro de mim
no cantar da minha fala”
Biláh Bernardes

Dividir-se, eis o verbo que atravessa o percurso existencial de
Maria Angélica Bernardes dos Santos, poeta que assina com o nome
literário de Biláh Bernardes.
Nascida em Santo Antônio do Monte, Minas Gerais, em 1950, foi
na capital Belo Horizonte que a vida foi arquitetada, local onde reside
até hoje.
Tal introito é necessário para a compreensão de “Sentimento
dividido”, o quinto livro da poeta, obra com ilustração de Iara Abreu,
publicada em Belo Horizonte, pela Starling Editora, em 2021.
No primeiro texto de apresentação do volume, Rogério Salgado
enfatizou, na página 7, que a terra natal da poeta estava presente nos
versos em “berço natal refletido em ouro, minérios, serras e montes….”
Merecem ressalvas algumas expressões que definem a poesia
de Bilah: “sutileza em seu poetizar”, “sonoridade na profunda essência”
e “poesia que exala o suor dos sentimentos”.
Já na segunda apresentação ao livro, Leonardo de Magalhães,
poeta e crítico literário, bacharel em Letras e Literatura brasileira, Fale/
UFMG, cita que é possível perceber as muitas faces de uma mulher que
escreve, ao desempenhar os múltiplos papéis que a vida lhe oferecer,
como mãe, professora, cidadã, entre outras.
E, como surgirão as metamorfoses típicas do movimento cíclico
denominado vida, a poesia de Biláh refletirá diversos destes vieses.
Quanto à estrutura do livro, cabe dizer que o volume é um pocket
de bolso, cuja leitura é facilitada pela possibilidade de transportar o título
a qualquer lugar.
Já internamente, não há uma divisão entre seções ou partes, e
isto em nada prejudica a beleza da obra. Todavia, será feita uma análise
mínima do volume em três partes.
No primeiro viés, a análise recai ao título e às personas que
revestem Biláh Bernardes, ou seja, os papéis desempenhados por esta
mineira na lida diária, tudo por meio da arte poética.
O texto que inspirou o livro, dando-lhe o nome é “Poema dividido”,
p.36, no qual escrever é fundamental para o reconhecimento de
abismos, quedas, palavras incompreendidas, etc.
Já o poema de abertura é “Quebra-cabeça”, p.18, lindo texto no
qual o eu lírico valoriza as diversas personagens vividas por Biláh: mãe,
filha, criança, mulher, professora, tudo com paixão, para que, na página
19, ” minha porção gente / (…) / espera que o mundo acorde // age para
acordar o mundo.”
Em “Gestar” e “Maternal”, páginas 23 e 24, respectivamente, logo
se percebe a exaltação à condição feminina. De outro modo, “Foz”,
p.27, revela os vieses existentes entre o masculino e o feminino, na
busca pelo amor.
Por outro lado, “Gestos de amor” evoca a figura paterna e uma
forma diferente de querer bem, tudo através de um “olhar de ternura.”
Tal qual uma “Dedicatória”, p.32, de um livro, o poema é uma
homenagem ao amado, para o qual o eu lírico diz: ” Eu lhe ofereço / o
presente que vivo, com flores e espinhos”,
Um segundo viés da obra pode ser visto através do olhar voltado
aos ambientes interno e exterior.
O locus amoenus comparece ao livro com “Nascida nas
montanhas”, p.42, quando o eu lírico se localizou geograficamente entre
Santo Antônio e Belo Horizonte.
E como não se foge ao entorno, eis que “Não combina”, p.54,
inaugura um grupo de poemas de viés social. Este, em voga, traz as
consequências advindas da pandemia provocada pela covid-19.
“Surdez”, p.56, é um poema amplo. Trata-se do reflexo do
amortecimento do pensar, da ignorância que campeia mundo afora,
pois tantos fatos oprimem os homens, que se calam. Não apenas a
guerra, a violência sexual, os abusos de toda ordem, as mortes
silenciosas, enfim, tudo o que deveria ser denunciado, afinal “A morte
do pensamento /sangra mais /que os noticiários/ dos jornais!”
E, se “De tanto ver / a morte estampada na TV / ela não me
surpreende mais”, em “Inversões”, p.64; “Indignação”, p. 62, é um
poema que fala pelo próprio título.
Um terceiro viés sobre a obra abrange temas diversos, desde a
intertextualidade, ao diálogo com outras artes, incluindo também os
recursos literários de que estes poemas se alimentam.
Um rápido introito para dizer que não à toa o texto “Vida”, p. 68,
ora musicado por Carolina Inez, foi publicado no livro “Entre-textos 2”,
do autor desta resenha, em trabalho de diálogos poéticos.
Ainda sobre vozes que conversam entre si, nos versos “Onde está
minha alegria? / Em que esquina da vida / Ela ficou esquecida?”, de
“Alegria”, p. 72, é flagrante a referência a Cecilia Meireles, tal qual
ocorre já no título de outro texto, que é “Influência Baudelaire”, p.98.
Paralelismos despontam em “Preço da liberdade”, p. 78; assim
como o gosto pelas rimas aparece em vários poemas a saber: “De lua”,
p. 73; “Fel e mel”, p. 99, entre outros. Trata-se de uma opção da poeta,
c Trata-se de uma opção da poeta, cuja predileção pelos versos
brancos.
Figuras de linguagem dão beleza ao texto poético, por isso não
são ignoradas, já que a “Vida é feita de escolhas. em “Camaleão”, p.
80; “Hoje a insônia / tem gosto de angústia”, em “Insônia XXX”, p.92
e “Há dias em que fico / saturada de palavras”, em “Parto”, p. 101, com
metáforas, prosopopeias, entre outras.
Eis o sentimento de Biláh Bernardes, que aflora em versos, para
alegria dos leitores, entre os quais me incluo.
*LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direito. É professor e escritor. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso,
representou o Brasil no IV EPLP em Lisboa. Participa de mais de 200 livros coletivos. Consta em mais de
600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês,
francês, italiano, alemão, espanhol, holandês, romeno e chinês. Publicou 16 livros: 10 de poemas, 3 peças
de teatro e os livros de contos “A vida sem disfarces”, Prêmio Nelson Rodrigues, UBE/RJ, Personal, 2019;
“Ingênuos, Pueris e Tolinhos”, Personal, 2021 e “Um encontro inusitado: concordâncias e divergências”,
em parceria com Eliana Calixto, Penalux, 2021. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019” pelo
conjunto da obra. Em 2020, teve poema publicado nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte,
em Chapel Hill, na coletânea internacional “VII Heron Clan”, a convite de Todd Irwin Marshall. Em 11 de
junho de 2021, a professora doutora Cristiane Tolomei (UFMA) resenhou “A vida sem disfarces” e
“Ingênuos, Pueris e Tolinhos”, no canal A VOZ LITERÁRIA

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