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Por que estudar moda?

Recentemente fui convidada pela Faculdade Pitágoras de Divinópolis para assumir a coordenação do MBA em Gestão Estratégica de Negócios da Moda. Aceitei o desafio com muito entusiasmo e, movida pelo afeto que tenho pela moda, rapidamente estruturei a grade curricular do curso; recrutei profissionais da região e da capital mineira; deliberei a missão, a visão, os valores, os objetivos e as metas do curso e, por fim, realizei uma breve pesquisa sobre o cenário do ensino superior no campo da moda em Minas Gerais. Esta pesquisa, no entanto, me deixou um tanto quanto intrigada: possuímos cursos relevantes de graduação em design de moda, mas pouquíssimos cursos presenciais a nível de pós-graduação. Além disso, há um histórico significativo de tentativas de abertura de turmas de MBAs da área (sem muito sucesso) e uma proliferação de cursos técnicos (em grande maioria ligados somente ao design, à costura e a modelagem). Diante deste cenário, me angustiei com a seguinte pergunta: por que estudar moda?
Muitas pessoas compreendem a moda como uma área que não exige tanto conhecimento, mas experiência de mercado. De fato, há muitas coisas do universo fashion (e não só dele) que só se aprende fazendo; porém, para tudo aquilo que conseguimos executar bem, é preciso alguém que pense e planeje estrategicamente o que deve ser executado. Em ambos os casos, algum nível de conhecimento é exigido – conhecimento prático e/ou conhecimento teórico. No nível do conhecimento prático, as ações executadas é que dão o suporte necessário para os argumentos. Já no nível teórico, os argumentos são baseados em uma pilha de livros, outra pilha de artigos, muitas horas extras de documentários assistidos, coleções de revistas de moda, leituras e mais leituras de matérias jornalísticas, discussões calorosas em sala de aula, participações em eventos que se propõem a questionar o campo e uma série de outras atividades divertidíssimas para os pesquisadores da área.
Ainda que haja diferenças entre os níveis práticos e teóricos, é importante elucidar que nenhum se sobrepõe ao outro. A arte de se compreender e atuar no campo da moda exige daqueles que a levam como profissão ambos os níveis de conhecimento. Sim, ambos! E se os 2.162 caracteres que gastei até aqui não te convenceram de que a moda não é só uma questão de prática, é porque você não parou para pensar que a teoria não é inventada e descolada de casos reais; mas uma reflexão profunda daquilo que tem sido feito pelas marcas de moda e pelas empresas do ramo.
Se nada disso faz sentido ainda, quero te lembrar da alarmante pesquisa do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que aponta o fechamento da maioria das empresas brasileiras até o segundo ano de vida, justamente porque seus proprietários acreditam que só a prática, esvaziada de conhecimento, resolve. É claro que existem outras contingências importantes, como as dificuldades decorrentes da atual conjuntura econômica brasileira, o desaquecimento das vendas em vista do endividamento populacional, os problemas pessoais que incidem sobre o próprio negócio, dentre outros fatores. Ainda assim, muitas das deficiências no processo de gestão empresarial são decorrentes da falta de qualificação daqueles que estão envolvidos com a atividade.
Mas, afinal, de que qualificação estamos falando? Entender de moda e dos negócios que envolvem a área é fácil: basta acessarmos diariamente uma vasta lista de blogs, assistirmos às novelas da Rede Globo, adorar as it girls, seguir perfis que postam looks incríveis no Instagram e ler regularmente uma bíblia fashion chamada Vogue, certo? Nem tanto!

“Há muitas coisas do universo
fashion (e não só dele)
que só se aprende fazendo;”

É inegável que os blogs renomados de moda são ótimas referências para o comportamento do consumidor fashion. Além disso, acredito na atividade como profissão e sou a favor do movimento de sindicalização das blogueiras. De fato, normas para a atividade são necessárias, principalmente porque existem posts pagos e porque é preciso um monitoramento adequado do impacto que estas mídias sociais exercem não só sob as marcas, mas sob as consumidoras. Ah, já ia me esquecendo! Também sou super a favor de um cursinho básico de Português promovido pelo futuro sindicato das blogueiras – não defendo a vergonha alheia! RS!
Também é inadmissível negar o poder de influência das novelas de uma mídia tão imperativa como a Globo, cujo merchandising move vitrines e muitos parcelamentos de faturas de cartão de crédito das seguidoras fiéis de moda de massa. A fidelização destas consumidoras também se deve às it girls; que são parte inerente do processo de transformação de uma tendência em mass consumption. É igualmente impossível menosprezar o poder de influência das diversas mídias sociais na circulação de mercadorias da indústria da moda. E ignorar a relevância da Vogue é o mesmo que atirar pedra na cruz (lembremo-nos do diabo que veste Prada e oremos por nossos impulsos consumistas, amém! RS!)
Qualificar-se enquanto profissional e empreendedor de moda é ir além dos pré-requisitos básicos citados acima. É preciso compreender suas questões históricas, sociais, econômicas, culturais e questionamentos éticos para que, a partir destas elucidações, seja possível inovar o olhar sob a prática. Claro, também é necessário entender de gestão financeira, gestão de marcas, empreendedorismo, marketing e comunicação de marcas de moda, dentre outras questões que fundamentam e mantêm uma prática competitiva de mercado.
Bom, até o último ponto final do exceto acima, atingimos 5.380 caracteres. Sei que é preciso muito mais do que isto para discutirmos todas as problemáticas da área e das empresas que trabalham com moda. Eu poderia gastar edições inteiras discorrendo sobre o quanto a moda tem a oferecer para além de seus caprichos; mas posso concluir a minha defesa em poucos caracteres: compreender a moda exige um valioso investimento, cujas raízes são amargas, mas os frutos são doces (inspiração Aristotélica).

Luiza Oliveira: Publicitária e Mestre em Comunicação Social
mestreluizaoliveira@gmail.com
(31) 9504 9638 – www.facebook.com/MestreLuizaMOliveira

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Mônica Garcia

Mônica Garcia

A revista Official Chic foi idealizada por sua proprietária, a Jornalista Mônica Garcia, para ser um veículo atemporal que dissemina a arte, a cultura, o empreendedorismo e com holofotes em empresas que se destacam em seus segmentos e nos profissionais que atuam de forma inovadora e diferenciada dentro das suas especialidades.
É também uma passarela artístico-cultural onde o poder da criação tem liberdade para apresentar todas as suas nuances.

As causas sociais e filantrópicas também são prioridade da idealizadora desta revista, sobretudo o autismo, que se tornou uma luta de causa e de vida!