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SAUDADES DE LAGOA DA PRATA

Caro leitor, é um prazer reviver o passado e aproveitar o presente. Neste momento que somos impedidos de visitar os entes queridos, só se ouve notícias não tão agradáveis. Ai subo numa mangueira, ou numa jabuticabeira e me transportando para o paraíso que era Lagoa da Prata.

Vinha de Bom Despacho num ônibus bem velhinho, passando numa estrada boiadeira, o rio Santa Luzia, onde a gente fazia deliciosos piqueniques. A velha ponte de madeira que balançava quando passava um veículo. Os pés de ingá cheios de frutos adocicados.

Antes de chegar na Igreja Matriz tinha que parar na sorveteria Dorjo.

Depois da igreja, entrava na rua Cirilo Maciel, ao lado da caixa d’água era a casa da tia Julica (Júlia de Melo Resende) um doce de pessoa. Uma família muito unida, uma finesse. As filhas eram mestras e se casaram com outros mestres, era a casa dos grandes professores! Na despedida ela nos entregava uma matula com deliciosas guloseimas.

A casa 195, da mesma rua, era a do tio Quito Bié (Francisco Tavares Lacerda) e tia Zefa (Josefa Rezende Lacerda). Uma casa velha, uma copa, um quartinho e um banheiro. Um degrau e a sala, à frente o quarto do casal e dentro o quarto das moças. Para ir à cozinha mais degraus, um fogão e uma despensa. Um barracão nos fundos onde dormia os rapazes. No quintal um pé de lima, uma fossa, com um banheiro.

Levantávamos de madrugada, todos iam na carroceria da F.4.000 juntos com os latões de leite. Quanta poeira branca, fininha que comíamos e o frio que passávamos mesmo enrolados num capote grosso. Às duas horas começava a ordenha.

O tio Quito era um menino grande que arrebanhava um bando de outros meninos e adorava fazer mimos, comprar picolé, guaraná, balas.

Dia de casamento era uma grande festa. Uma dúzia de moças se aprontando, secadores a postos, maquiagem, salão improvisado e desfile no corredor. Só um banheiro para mais de vinte pessoas. Uma moça emprestava ou trocava sua roupa para outra só para combinar com o sapato ou com o batom. Para vestir uma roupa justa, numa moça mais cheinha era preciso duas amigas ajudarem para a roupa entrar e umas três para tirá-la. Essa alma feminina que tanto encanta o sexo oposto – o coloca aos seus pés. Os homens sobravam, como se diz nasceram pronto.

Depois da cerimônia religiosa era servido um fausto jantar. Os namorados procuravam um cantinho, onde faziam juras de eterno amor. Os casais se separavam. As mulheres tricotavam conversas com as amigas e os homens se embebedavam.

Quando chegava em casa, as mulheres se despediam de sua elegância, tiravam a máscara da beleza, vestia um baby doll, não sem antes passar um creme hidratante. Os homens dormiam do jeito que estavam, desmaiavam. Com bafo de cachaça ou de vômitos. Nem os sapatos tiravam.

O Carnaval era inesquecível! No Stúdio 9 (Manga), LatTop, o Clube Estrela, Clube Social. Os foliões iam para a rua, uma festa alegre, com muita Lobatinha, onde acontecia de tudo e terminava em volta da lagoa. Alguns acompanhados, outros em busca da voz melodiosa da Sereia. Um amigo bebeu todas e desmaiou debaixo da mesa e dizia que estava curtindo a vida. Outro no meio da rua afrouxou as calças, defecou… caiu por cima e apagou. As beatas que iam para a missa das seis horas passavam, faziam o sinal da cruz, beijavam o terço e resmungavam:

– Cruz credo, esse mudo está perdido!

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Fernando Humberto

Fernando Humberto

Filiação: Geraldo Ribeiro de Resende e Zilah Gontijo Resende.

Nasceu em Bom Despacho no dia 04 de outubro de 1963.

Casado com Edna Aparecida Espírito Santo Resende, tem uma filha: Naira do Espírito S. Resende, Bibliotecária.

Em 2013 lancei o livro: “A Saga dos Resende & Gontijo”: Dia 09 de novembro em Goiânia – GO – 130 pessoas, dia 13 de novembro em Bom Despacho – 130 pessoas, dia 21 de novembro em Santo Antônio do Monte – 75 pessoas, dia 28 de novembro em Lagoa da Prata, dia 04 de dezembro em Luz – 40 pessoas e dia 12 de dezembro em Moema, dia 13 de março de 2014 em Divinópolis, 25 de julho de 2014 em Vitória – ES. Em setembro de 2014 em Brasília – DF Em todos os eventos foi servido um lanche, minha esposa Edna Aparecida do Espírito Santo contou uma história do livro. No dia 22 de setembro de 2017 tomei posse na Academia Bom-Despachense de Letras, cadeira número 25, cujo patrono é o escritor Mário Marcos de Morais.

Em 2018, assumi o cargo de tesoureiro da referida Academia..

Em 01 de junho de 2018 fiz a Sessão de Autógrafos dos livros: “Bom Despacho 300 anos: Homens que a construíram”- Tomo I, II, III e IV, na Câmara Municipal de Bom Despacho, para noventa pessoas.

Participei da 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo Foi o livro destaque da Feira Literária de Divinópolis – FLID/2018. No dia 29 de maio de 2019, ministrei uma palestra aos discentes do Pré Vestibular Tipura, em comemoração aos 107 anos de emancipação político/administrativa de Bom Despacho. No dia 05 de junho de 2019, recebi Voto de Congratulações, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.Currículo