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Meu avô Rafael é a minha inspiração

Meu avô Rafael Ribeiro de Rezende, é a minha inspiração, um homem íntegro, correto, um ser humano dotado de raras qualidades, autodidata.

Eram três irmãos filhos de Antônio Ribeiro de Resende e Josepha Ribeiro de Rezende (Rafael Ribeiro Rezende, Geraldo Augusto Rezende e Maria Alacoque Resende),casados com três irmãos primos em primeiro grau, filhos de Antônio Honório Assumpção e Maria do Carmo Rezende Assumpção (Ana Josefa Rezende – Donana, Ismênia Honório de Rezende e José Honório Assumpção). E meus bisavós eram filhos do Capitão Geraldo Ribeiro da Silva Rezende. Entre eles havia uma fraternidade.


Passei grande parte de minha vida (mais de 20 anos) numa busca incansável querendo reconstruir sua trajetória, resultando na publicação de 5 livros: A Saga dos Resende & Gontijo e Bom Despacho 300 anos: Homens que a construíram – Tomo I, II, III, IV (que resgata a construção de 57 cidades do centro-oeste mineiro. Entrevistei mais de mil pessoas, estive no Arquivo Público de Minas Gerais, no Centro de Memórias de Santo Antônio do Monte.

As Grotadas era um mundão bom demais!

Tinha a Fábrica de Manteiga Pimenta (1ª qualidade) e Triunfo (2ª qualidade), no início, as batedeiras eram tocadas a “muque”. Comprou alguns livros e construiu uma hidrelétrica na cachoeira do Rio Jacaré – a Cemiguinha, que iluminava parte da Lagoa da Prata.

Na década de 20 instalou um telefone que comunicava em Lagoa da Prata e Santo Antônio do Monte e com algumas fazendas de parentes. Girando uma manivela no sentido horário, uma volta – uma linha, duas voltas – duas linhas. No sentido anti horário, uma volta um ponto.

Tinha um caminhão Tigre, que tinha três pedais e três marchas, duas à frente e uma a ré. A gente comprava o caminhão e ia aprendendo a dirigir. Certa ocasião parou o Tigre e juntou uns cinco peões para virá-lo. Aí uma pessoa pediu para parar, entrou na boléia e ensinou ao meu avô como colocar a marcha ré.

– Agora esse caminhão, vale o dobro! Disse seu Rafael, estupefato.

As estradas tiveram que ser abertas a picaretas e os mata-burros eram feitos de pranchão de madeira, da largura do pneu. Quando meu avô ia passar em algum pisava fundo, esgoelava o caminhão e dizia:

– Se parar, para do outro lado. As latas de leite voavam um metro de altura e não tombavam

O Tio Zé Honório comprava tecido, taxinha, cetim, fabricava caixão. Certa ocasião, meu avô colocou um na carroceria do caminhão para entregar na “cidade”. Neste tempo era raríssimo quem tinha um automóvel. Quando meu avô saia das Grotadas aparecia gente de tudo que é banda querendo uma carona para a “cidade”. Era só escutar o barulho do motor que os matutos saiam do mato. Normalmente o roceiro sempre leva uma lata de leite, um queijo, ovos, galinhas, frutas…. Etc. Na primeira encruzilhada encontrou o compadre Mané, com roupa domingueira, por certo ia para a farra. Mais a frente caiu uma manga de chuva e o compadre para não se molhar entrou dentro do caixão. Em cada curva, em cada porteira ia entrando mais gente. Já não cabia mais ninguém. Entrando pelo Bairro Manga tem um açude, onde o aterro era mais alto e deu um baque no caminhão. Nesta hora, o Mané espreguiçou, levantou a tampa do caixão e perguntou com voz do outro mundo:

– Sô Rafael, já chegou?

Contam que vou gente para todos os lados. Pisotearam as galinhas, derramaram o leite, quebraram os ovos, fizeram uma bagunça. O aperto foi tão grande, que teve pessoas que pularam no açude.

O tio Zé Honório não conseguia conter suas estridentes gargalhadas e assim mesmo falou:

– Não sabia que vocês têm tanto medo de defunto?

E meu avô sério:

– Agora vocês arrumam essa bagunça.

Os Resende eram proprietários do município de Lagoa da Prata até o Esteios (Luz) e até o Ribeirão Santo Antônio (Moema) e combinaram casamento com a família Gontijo de Bom Despacho para aumentar as propriedades.

Nos anos 40, a gripe suína chegou nas Grotadas e meu avô Rafael para honrar os seus compromissos vendeu 4 fazendas, muitos lhe deviam e não pagaram. Decidiu mudar para Curitiba, com quase 50 anos de idade. Com muitas pesquisas descobri que tínhamos um primo morando em terras devolutas na divisa do Paraná com Santa Catarina, onde meu vovô pretendia chegar. Em Uberlândia encontrou caravanas indo para Brasília. Mudou seu destino para Goiânia. Onde abriu a Casa Rezende.

Aos 80 anos era um homem espigadinho, sempre elegante, andando de bicicleta. Deixou um grande legado, Colaborou na construção da igreja do Setor Aeroporto, foi um vicentino exemplar. Sua fé transpôs todas as dificuldades. Seus filhos se formaram: em engenharia, odontologia, grandes mestras. Em janeiro de 1980, a doce vovó Donana partiu para a eternidade e vovô perdeu a razão de viver, seis meses depois se encontraram no paraíso que o bom Deus lhe reservara. Constituíram uma Família Abençoada.

Fernando Humberto de Resende

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Fernando Humberto

Fernando Humberto

Filiação: Geraldo Ribeiro de Resende e Zilah Gontijo Resende.

Nasceu em Bom Despacho no dia 04 de outubro de 1963.

Casado com Edna Aparecida Espírito Santo Resende, tem uma filha: Naira do Espírito S. Resende, Bibliotecária.

Em 2013 lancei o livro: “A Saga dos Resende & Gontijo”: Dia 09 de novembro em Goiânia – GO – 130 pessoas, dia 13 de novembro em Bom Despacho – 130 pessoas, dia 21 de novembro em Santo Antônio do Monte – 75 pessoas, dia 28 de novembro em Lagoa da Prata, dia 04 de dezembro em Luz – 40 pessoas e dia 12 de dezembro em Moema, dia 13 de março de 2014 em Divinópolis, 25 de julho de 2014 em Vitória – ES. Em setembro de 2014 em Brasília – DF Em todos os eventos foi servido um lanche, minha esposa Edna Aparecida do Espírito Santo contou uma história do livro. No dia 22 de setembro de 2017 tomei posse na Academia Bom-Despachense de Letras, cadeira número 25, cujo patrono é o escritor Mário Marcos de Morais.

Em 2018, assumi o cargo de tesoureiro da referida Academia..

Em 01 de junho de 2018 fiz a Sessão de Autógrafos dos livros: “Bom Despacho 300 anos: Homens que a construíram”- Tomo I, II, III e IV, na Câmara Municipal de Bom Despacho, para noventa pessoas.

Participei da 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo Foi o livro destaque da Feira Literária de Divinópolis – FLID/2018. No dia 29 de maio de 2019, ministrei uma palestra aos discentes do Pré Vestibular Tipura, em comemoração aos 107 anos de emancipação político/administrativa de Bom Despacho. No dia 05 de junho de 2019, recebi Voto de Congratulações, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.Currículo